Afinal, trabalhar para quê? – Parte 1 from Fórum Cristão de Profissionais on Vimeo.
Arquivo da categoria ‘Espiritualidade’
Onde já se viu um judeu, descendente do rei Davi, reconhecido pelo povo como um Rabi, bebendo, indo a festas, conversando com imorais, curando no sábado, não jejuando, indo comer com os traidores da nação/religião… Que absurdo!!! Onde já se viu falar que um romano, adorador de outros deuses, um idólatra gentio teria mais fé que qualquer um de nós? Deveriam crucificá-lo e assim preservar a religião, não é mesmo?
E quanto a Paulo, defendendo que os gentios poderiam ser salvos e merecedores da graça sem ter que vir para a nossa religião? Já pensou no perigo ter alguém ser membro da comunidade sem ser circuncidado ou em nosso contexto: batizado “por imersão” (sic)?
Os religiosos da época devem ter se comportado do mesmo modo que muitos dos nossos contemporâneos quando estes veem a ousadia de alguns em sentar-se e compartilhar os pontos comuns com outras correntes da cristandade. Imagine então definir-se como “cristão missional, evangélico, pós-protestante, liberal-conservador, místico-poético, bíblico, carismático-contemplativo, fundamentalista, calvinista, anabatista-anglicano, metodista, católico, verde, encarnacional, deprimido-mas-esperançoso, emergente e inacabado” como faz Brian MacLaren?
Em geral, temos dificuldade de aceitar que Deus manifesta a sua graça nas outras tradições, além do nosso curral. Mas Jesus disse certa vez: Eu digo a vocês que, de fato, havia muitas viúvas em Israel no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e meio, e houve uma grande fome em toda aquela terra. Porém Deus não enviou Elias a nenhuma das viúvas que viviam em Israel, mas somente a uma viúva que morava em Sarepta, perto de Sidom. Havia também muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi curado. Só Naamã, o sírio, foi curado. Quando ouviram isso, todos os que estavam na sinagoga ficaram com muita raiva.
Jesus foi um ecumenista de verdade… Não falo do ecumenismo romano, que tenta unir instituições sob o cuidado papal. Não do irenismo, fingindo que não existem diferenças relevantes entre instituições. Não do diálogo inter-religioso entre não cristãos.
Todos os itens acima estão relacionados a instituições religiosas e não a pessoas. Entretanto Jesus não veio fundar uma nova religião ou denominação. Não se vê Jesus fazendo nenhum tipo de proselitismo religioso.
O ecumenismo de verdade une PESSOAS (não instituições religiosas) À CRISTO (e não às igrejas). Portanto, me refiro ao tipo de ecumenismo que RECONCILIA A CRIACÃO COM O CRIADOR.
Já ouvi relatos de que nos países onde o cristianismo é perseguido as diferenças entre ICAR, Ortodoxos e Evangélicos fica em segundo plano. Por que será?
Ora, a Igreja real e espiritual se mostra UNA, CATOLICA e APOSTOLICA, se torna o Reino de Deus visível no mundo justamente quando se posiciona e atua demonstrando amor. Não quando afirma seus dogmas institucionalizados ou relativiza seus valores fundamentais. É esta a Igreja que atravessa milênios e estará com Cristo no céu.
Perceberam que nas últimas eleições presidenciais houve um movimento espontâneo de união da cristandade em prol de questões éticas e valores comuns? O mais interessante é que não surgiram do ecumenismo formal ou do intelectual/ideológico-libertário. Embora tentou-se posteriormente descaracterizar a espontaneidade do ocorrido e critique-se a sua usurpação por uma corrente política, o fato é que o secularismo ideológico não estava pronto para este tipo de golpe vindo de uma corrente neo-espiritualista em plena pós-modernidade através dos novos meios de comunicação social. Ou seja, presenciamos um verdadeiro “netweaving da moral cristã”, uma verdadeira ação ecumênica em defesa da vida para o qual os atores tradicionais não estavam preparados para interpretá-la.
Segundo John Stott, “se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos manter a verdade em amor, não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade” (…)
Finalizando, o ecumenista legítimo crê que “AQUELE (e não aquilo) que nos une é maior que AQUILO que nos separa”. Percebe? Trata-se de vida e não religião. Aproveitando fica a dica para refletir na assinatura eletrônica de uma “colega listeira” Westh Ney: “No essencial – unidade; nas diferenças – liberdade; e em todas as coisas – o amor.” (teólogo Peter Meiderlin)
Notas
Ecumenismo na visão da ICAR – Igreja Católica Apostólica Romana, é o movimento de união das igrejas sob o apostolado de Pedro (Roma). Eles crêem que existe salvação nas outras igrejas cristãs, mas que a completa e sã doutrina é a romana.
Irenismo é a espécie de ecumenismo que defende a união de pontos comuns, esquecendo-se e subtraindo-se o que divide as religiões e a verdade de cada uma. A ICAR defende o tipo anterior e, portanto nega veementemente o irenismo.
Os primeiros concílios da igreja são chamados ecumênicos porque são aceitos por toda a cristandade.
O dialogo inter-religioso não é ecumenismo, pois o ecumenismo só existe entre cristãos. Ele visa à aproximação e ações conjuntas entre todas as religiões apenas no que se refere ao bem comum e ao homem.
Segue abaixo um vídeo e palestras em audio muito interessantes promovidos pelas Edições Vida Nova.
Bate-papo sobre Igreja Emergente em: http://www.vidanova.com.br/Streaming/entrevista_emergente.asxConferência de Teologia 2010 em: http://www.vidanova.com.br/news2010/news_conferencia2010.html
Um vídeo que achei bem legal. Brevemente, me fez pensar sobre Deus, sobre o desejo de criar algo novo, sobre o nosso papel e chamado como cristãos no mundo, etc.
Vale a pena visitar a página do 1.UM (www.umpontoum.com)
Por Rubem Alves
Um amigo me disse que o poeta Mallarmé tinha o sonho de escrever um poema de uma palavra só. Ele buscava uma única palavra que contivesse o mundo. T.S. Eliot no seu poema O Rochedo tem um verso que diz que temos "conhecimento de palavras e ignorância da Palavra". A poesia é uma busca da Palavra essencial, a mais profunda, aquela da qual nasce o universo. Eu acho que Deus, ao criar o universo, pensava numa única palavra: Jardim! Jardim é a imagem de beleza, harmonia, amor, felicidade. Se me fosse dado dizer uma última palavra, uma única palavra, Jardim seria a palavra que eu diria."(Clique aqui para você ler um texto sobre jardins)
Depois de uma longa espera consegui, finalmente, plantar o meu jardim. Tive de esperar muito tempo porque jardins precisam de terra para existir. Mas a terra eu não tinha. De meu, eu só tinha o sonho. Sei que é nos sonhos que os jardins existem, antes de existirem do lado de fora. Um jardim é um sonho que virou realidade, revelação de nossa verdade interior escondida, a alma nua se oferecendo ao deleite dos outros, sem vergonha alguma… Mas os sonhos, sendo coisas belas, são coisas fracas. Sozinhos, eles nada podem fazer: pássaros sem asas… São como as canções, que nada são até que alguém as cante; como as sementes, dentro dos pacotinhos, à espera de alguém que as liberte e as plante na terra. Os sonhos viviam dentro de mim. Eram posse minha. Mas a terra não me pertencia.
O terreno ficava ao lado da minha casa, apertada, sem espaço, entre muros. Era baldio, cheio de lixo, mato, espinhos, garrafas quebradas, latas enferrujadas, lugar onde moravam assustadoras ratazanas que, vez por outra, nos visitavam. Quando o sonho apertava eu encostava a escada no muro e ficava espiando.
Eu não acreditava que meu sonho pudesse ser realizado. E até andei procurando uma outra casa para onde me mudar, pois constava que outros tinham planos diferentes para aquele terreno onde viviam os meus sonhos. E se o sonho dos outros se realizasse, eu ficaria como pássaro engaiolado, espremido entre dois muros, condenado à infelicidade.
Mas um dia o inesperado aconteceu. O terreno ficou meu. O meu sonho fez amor com a terra e o jardim nasceu.
Não chamei paisagista. Paisagistas são especialistas em jardins bonitos. Mas não era isto que eu queria. Queria um jardim que falasse. Pois você não sabe que os jardins falam? Quem diz isto é o Guimarães Rosa: "São muitos e milhões de jardins, e todos os jardins se falam. Os pássaros dos ventos do céu – constantes trazem recados. Você ainda não sabe. Sempre à beira do mais belo. Este é o Jardim da Evanira. Pode haver, no mesmo agora, outro, um grande jardim com meninas. Onde uma Meninazinha, banguelinha, brinca de se fazer Fada… Um dia você terá saudades… Vocês, então, saberão…" É preciso ter saudades para saber. Somente quem tem saudades entende os recados dos jardins. Não chamei um paisagista porque, por competente que fosse, ele não podia ouvir os recados que eu ouvia. As saudades dele não eram as saudades minhas. Até que ele poderia fazer um jardim mais bonito que o meu. Paisagistas são especialistas em estética: tomam as cores e as formas e constróem cenários com as plantas no espaço exterior. A natureza revela então a sua exuberância num desperdício que transborda em variações que não se esgotam nunca, em perfumes que penetram o corpo por canais invisíveis, em ruídos de fontes ou folhas… O jardim é um agrado no corpo. Nele a natureza se revela amante… E como é bom!
Mas não era bem isto que eu queria. Queria o jardim dos meus sonhos, aquele que existia dentro de mim como saudade. O que eu buscava não era a estética dos espaços de fora; era a poética dos espaços de dentro. Eu queria fazer ressuscitar o encanto de jardins passados, de felicidades perdidas, de alegrias já idas. Em busca do tempo perdido… Uma pessoa, comentando este meu jeito de ser, escreveu: "Coitado do Rubem! Ficou melancólico. Dele não mais se pode esperar coisa alguma…" Não entendeu. Pois melancolia é justamente o oposto: ficar chorando as alegrias perdidas, num luto permanente, sem a esperança de que elas possam ser de novo criadas. Aceitar como palavra final o veredicto da realidade, do terreno baldio, do deserto. Saudade é a dor que se sente quando se percebe a distância que existe entre o sonho e a realidade. Mais do que isto: é compreender que a felicidade só voltará quando a realidade for transformada pelo sonho, quando o sonho se transformar em realidade. Entendem agora por que um paisagista seria inútil? Para fazer o meu jardim ele teria que ser capaz de sonhar os meus sonhos…
Sonho com um jardim. Todos sonham com um jardim. Em cada corpo, um Paraíso que espera… Nada me horroriza mais que os filmes de ficção científica onde a vida acontece em meio aos metais, à eletrônica, nas naves espaciais que navegam pelos espaços siderais vazios… E fico a me perguntar sobre a perturbação que levou aqueles homens a abandonar as florestas, as fontes, os campos, as praias, as montanhas… Com certeza um demônio qualquer fez com que se esquecessem dos sonhos fundamentais da humanidade. Com certeza seu mundo interior ficou também metálico, eletrônico, sideral e vazio… E com isto, a esperança do Paraíso se perdeu. Pois, como o disse o místico medieval Angelus Silésius:
Se, no teu centro
um Paraíso não puderes encontrar,
não existe chance alguma de, algum dia,
nele entrar.
Este pequeno poema de Cecília Meireles me encanta, é o resumo de uma cosmologia, uma teologia condensada, a revelação do nosso lugar e do nosso destino:
"No mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro:
no canteiro, urna violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de urna borboleta."
Será que finalmente a Igreja Emergente está emergindo no Brasil?
Publicado: 11/08/2010 em Diálogo, Espiritualidade, ReligiãoTags:eclesiologia, Espiritualidade, igreja emergente
Os novos evangélicos e a nova reforma protestante
Trecho de "Os Novos Evangélicos" – Revista Época
Por Ricardo Alexandre.
Inspirado no cristianismo primitivo e conectado à internet, um grupo crescente de religiosos critica a corrupção neopentecostal e tenta recriar o protestantismo à brasileira.
Irani Rosique não é apóstolo, bispo, presbítero nem pastor. É apenas um cirurgião geral de 49 anos em Ariquemes, cidade de 80 mil habitantes do interior de Rondônia. No alpendre da casa de uma amiga professora, ele se prepara para falar. Cercado por conhecidos, vizinhos e parentes da anfitriã, por 15 minutos Rosique conversa sobre o salmo primeiro (“Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios”). Depois, o grupo de umas 15 pessoas ora pela última vez – como já havia orado e cantado por cerca de meia hora antes – e então parte para o tradicional chá com bolachas, regado a conversa animada e íntima.
Desde que se converteu ao cristianismo evangélico, durante uma aula de inglês em Goiânia em 1969, Rosique pratica sua fé assim, em pequenos grupos de oração, comunhão e estudo da Bíblia. Com o passar do tempo, esses grupos cresceram e se multiplicaram. Hoje, são 262 espalhados por Ariquemes, reunindo cerca de 2.500 pessoas, organizadas por 11 “supervisores”, Rosique entre eles. São professores, médicos, enfermeiros, pecuaristas, nutricionistas, com uma única característica comum: são crentes mais experientes.
O cirurgião Irani Rosique (sentado, de camisa branca, com a Bíblia aberta no colo). Sem cargo de clérigo, ele mobiliza 2.500 pessoas no interior de Rondônia.
Apesar de jamais ter participado de uma igreja nos moldes tradicionais, Rosique é hoje uma referência entre líderes religiosos de todo o Brasil, mesmo os mais tradicionais. Recebe convites para falar sobre sua visão descomplicada de comunidade cristã, vindos de igrejas que há 20 anos não lhe responderiam um telefonema. Ele pode ser visto como um “símbolo” do período de transição que a igreja evangélica brasileira atravessa. Um tempo em que ritos, doutrinas, tradições, dogmas, jargões e hierarquias estão sob profundo processo de revisão, apontando para uma relação com o Divino muito diferente daquela divulgada nos horários pagos da TV.
Estima-se que haja cerca de 46 milhões de evangélicos no Brasil. Seu crescimento foi seis vezes maior do que a população total desde 1960, quando havia menos de 3 milhões de fiéis espalhados principalmente entre as igrejas conhecidas como históricas (batistas, luteranos, presbiterianos e metodistas). Na década de 1960, a hegemonia passou para as mãos dos pentecostais, que davam ênfase em curas e milagres nos cultos de igrejas como Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil e O Brasil Para Cristo. A grande explosão numérica evangélica deu-se na década de 1980, com o surgimento das denominações neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus e a Renascer. Elas tiraram do pentecostalismo a rigidez de costumes e a ele adicionaram a “teologia da prosperidade”. Há quem aposte que até 2020 metade dos brasileiros professará à fé evangélica.
Fonte: Revista Época.
—————————
Observação: neste blog você encontra um bom material e links sobre Igreja Emergente.
—————————
Nota retirada de http://paoevinho.org/?p=5459
Mais uma vez comprova-se que o fenômeno do cristianismo simples está crescendo e cada vez mais chamando a atenção tanto da Igreja institucional quanto da mídia secular . Mas não penso que o cristianismo simples ao qual a reportagem se refere seja a “recriação do Protestantismo à brasileira.” Este não é um fenômeno exclusivamente tupiniquim, muito embora o potencial de crescimento da Igreja nos lares no Brasil seja imensamente maior do que em muitos países – o que ocorre também na Igreja institucional.
O artigo está muito bem escrito, levando-se em consideração que provavelmente saiu da pena de um jornalista secular. Mas o autor comete algumas generalizações a começar pelo fato de dizer que todo cristão não-católico no Brasil é evangélico (ver quadro acima). Mormons e Testemunhas de Jeová não se consideram e não são considerados evangélicos.
Ao ler o artigo completo (o que vemos acima é somente um trecho), vemos que o autor cita três correntes, sem se preocupar em diferenciá-las. A primeira, é a Igreja nos lares, a segunda é a Igreja emergente e a terceira é a dos blogueiros apologistas. Ele converge estas três correntes em um movimento de reação contra as exuberâncias do neopentecostalismo.
Mas a Igreja emergente, por exemplo, não se trata de uma reação ao neopentecostalismo. A Igreja emergente entende que a Igreja moderna, em geral, necessita de uma reforma e tem como enfoque construir pontes entre a Igreja e a geração pós-moderna. E apesar de a “desinstitucionalização” ser parte da pauta do diálogo emergente, muitas das comunidades emergentes são institucionais.
O artigo menciona os chamados blogueiros apologistas entre os novos reformadores, mas eles em sua maioria são somente irmãos conservadores de orientação reformada que não estão de acordo com os abusos das igrejas neopentecostais. Eles acertadamente clamam pelo regresso a uma sã doutrina, mas isso não necessariamente faz deles cristãos emergentes ou novos evangélicos.
Embora o neopentecostalismo seja a “vidraça” da vez, a Igreja nos lares tampouco é uma reação ao neopentecostalismo especificamente e sim uma alternativa ao sistema institucional de forma generalizada.
Diálogo interreligioso: o que eu tenho com isso?
Publicado: 09/07/2010 em Diálogo, Espiritualidade, ReligiãoTags:Diálogo, Religião
Jorge Camargo
Em se tratando de teologia, eu me sinto como o Belchior, célebre compositor cearense em um de seus clássicos, “Apenas um Rapaz Latino-Americano”: “Por favor, não saque a arma no saloon: eu sou apenas o cantor!”.
Ocorre que eu vivo num mundo interconectado, integrado, multiplural. E, acima de tudo, como ser humano sou livre para expressar meus pensamentos e sentimentos relacionados à vida, a Deus e ao próximo. E a partir disso, concluo: a hegemonia política do cristianismo é passado.
A força de sua mensagem, pra mim, permanece intocável. Amor sem medida, misericórdia, compaixão, generosidade, fome e sede de justiça. Em se tratando de instituição religiosa, no entanto, há muito os representantes oficiais da fé cristã têm perdido credibilidade e relevância. E nós muitas vezes confundimos Cristo com cristianismo, o que se trata de um pecado quase imperdoável.
Thomas Merton (1915-1968), sobre quem escrevi em meu livro “Somos Um”, foi um monge católico que bebeu na fonte da mística cristã em São João da Cruz e que no fim da vida promoveu o diálogo interreligioso com monges tibetanos, não para renegar sua fé, mas entendendo que sua herança cristã de dois milênios e o que ele não tinha a pretensão de conhecer por completo no tempo de uma única existência, poderiam beneficiar-se do diálogo com outra herança igualmente rica, uma vez que Deus não é cristão, kardecista, muçulmano, adepto das religiões afro, hindu, e a grandeza de seu mistério é simplesmente insondável.
Eu tenho a nítida sensação e a firme convicção de que o futuro da fé e a força da mensagem cristã passam por uma atitude de abertura ao diferente, uma postura de abnegação e de serviço ao outro, seja este quem for.
Ainda sonho com um mundo melhor. E um mundo melhor significa diálogo.
“Mas se depois de cantar
Você ainda quiser me atirar
Mate-me logo
À tarde, às três
Que à noite eu
Tenho um compromisso
E não posso faltar…”
• Jorge Camargo, mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor. www.jorgecamargo.com.br
Quero uma igreja nova
Publicado: 22/05/2010 em Diálogo, Espiritualidade, ReligiãoTags:cristianismo, eclesiologia, Igreja
Roney Medeiros
O que falta aos modelos de crescimento de Igreja? Proporcionar crescimento fora de suas portas…
O que falta para a Igreja emergente? Emergir do discurso para a práxis…
O que falta para a teologia da libertação? Libertar-se do marxismo e da ideologia travestida de teologia…
O que falta para a missão integral? Engajamento integral da igreja na causa missional…
O que falta para as igrejas históricas? Vida, entusiasmo, abertura para ser “reformada e sempre reformando”. Por sua vez, O que falta para as igrejas “avivadas”? Compromisso com a sua história. O que elas têm em comum? Fundamentalismo e falta de abertura à crítica.
Diante deste cenário o que nos resta? Nostalgia, lamentar o presente ou caminhar ao futuro?
Ah… Como seria uma igreja capaz de dialogar e atuar no mundo sem medo de ser afetado, contaminado ou confundido com ele?
Ah… Como seria uma igreja que interagisse no campo prático, cooperando com Deus em ações libertárias tanto nas relações de poder, econômicas e sociais como também no plano espiritual?
Ah… Como seria uma igreja cuja atuação no mundo não objetivasse um proselitismo oculto, mas o estabelecimento do Reino de Paz no mundo?
Ah… Como seria uma igreja propositiva, propondo questões antes não colocadas e levando esperança a sociedade ao invés de ficar defendendo seus dogmas e respondendo questões que já saíram da pauta?
Ah… Como seria uma igreja que depositasse sua fé nas escrituras e não em uma interpretação das escrituras, que não tenha receio e não demonize o questionamento (interno ou externo) de sua fé? Que admita que para muitas questões as respostas são possibilidades de fé que jamais serão provadas?
Ah… Como seria uma igreja que não fosse Igreja, mas uma “outra coisa” que não pudesse ser confundida com instituição? Talvez devêssemos ousar não ser mais que um movimento, pois “ek klesia” é mais um movimento que ajuntamento.
Ah… Como seria se este movimento estivesse disposto a fazer de seus relacionamentos sua liturgia, do diálogo sua homilética e da cooperação sua práxis?
Ah… Como seria se Deus pudesse ser percebido nas relações sociais, familiares? Nas relações igreja com o mundo e com os seus (pois já disseram que a igreja é o único exército que abandona seus feridos)? Afinal, Deus também se utiliza das relações como instrumento de sua revelação.
Corpo é unidade, é interdependente. Corpo tem comando, atende ao chamado do cabeça (sic). Corpo tem vida, corpo é movimento e esse movimento é interno e externo. Corpo existe no mundo e sua atuação gera e sofre impacto direto e indireto, no presente e no futuro.
Quero uma igreja nova, que não seja instituição mais que corpo. Um corpo vivo e não morto. Quero um movimento e não algo estático.
Nota: este artigo foi inspirado nos artigos “Quero uma igreja velha” e “Quero um culto velho” do Pr. Isaltino Gomes e não pretende ou deve ser confundido como uma resposta ou qualquer tipo de crítica.
Dúvida, uma ferramenta para fé.
Publicado: 21/05/2010 em EspiritualidadeTags:Espiritualidade, Fé, pós-modernidade
A falta de dúvida gera orgulho, e orgulho gera queda.
Onde está o sábio? Onde está o escriba? Como podemos saber que
um sistema é válido? Um Deus compreendido não é Deus algum! Uma
revelação estática, e definitiva, não é revelação alguma. A Bíblia é a
palavra de Deus à medida em que Deus permite que seja Sua Palavra, à
medida em que Deus fala através dela no desenrolar dos tempos.
A fé cristã não é uma forma religiosa do platonismo,
aristotelianismo, idealismo, absolutismo, existencialismo, ou qualquer
outro-ismo.O cristão deve sempre questionar o que crê , e nunca
desanimar em desconstruir e reconstruir sua crença, quando necessário,
porque está convicto de que Deus é o Deus de toda a verdade.
Se há uma coisa que se destaca em nosso panorama de mais de mil anos
de debates entre os filósofos e teólogos no mundo ocidental, é que
nenhum sistema de filosofia ou teologia já se revelou completo e
perfeito. De fato, poderia ser dito que aqueles sistemas que, tais como
o Idealismo e o Dogmatismo, têm feito as maiores reivindicações quanto
serem compreensivos e completos, são precisamente aqueles que são os
mais defeituosos. Em intervalos quase regulares no decurso dos séculos,
alguém topa com uma idéia que tem algum direito a ser considerada
verídica. Passa então a ser aumentada em sistema que, segundo se pensa,
é capaz de explicar tudo. É aclamada como a chave para destravar todas
as portas. Mais cedo ou mais tarde, porém, seus defensores se acham
obrigados a negar a existência de tudo quanto a chave deixa de
destravar, ou a confessar que ela não é bem tudo quanto imaginavam que
fosse. Por algum tempo, o sistema parece arrastar tudo consigo.
Finalmente, porém, as pessoas ficam desiludidas, e experimentam alguma
novidade – Por isso sempre digo: “de omnibus dubitandum” [de tudo
duvidar] é algo para apostar.
O que freqüentemente acontece tanto na teologia quanto na filosofia,
é que alguém acha por acaso alguma coisa que já há muito tempo passado
desapercebida, ou sente a necessidade de esclarecer algum aspecto da
experiência ou de relacioná-lo com o pensamento “ pós-moderno”. Os
racionalistas do século XVII sentiam a necessidade do raciocínio claro
e da demonstração racional. Os idealistas do século XIX sentiam a
necessidade de relacionar a totalidade da experiência a uma causa
espiritual ulterior. Kierkegaard no mesmo século sentia que a
explicação dada pelos idealistas deixava fora de consideração o
indivíduo e a vida real. No século XX Cornelius Van Til, Karl Barth e
Francis Schaeffer, gastaram um bom tempo reiterando suas considerações
sem realmente explicá-las. Em todos estes casos, os respectivos
pensadores ficaram tão impressionados com seu discernimento específico
que o edificaram num sistema mais ou menos rígido que virtualmente
destruiu sua utilidade original.
Não se quer dizer com isto que nenhuma crença nunca seja válida, e
que nada possa verdadeiramente ser conhecido. Pelo contrário, nos
impulsiona a uma fé misteriosa, que eleva à Deus e sua Palavra.
Trata-se do seguinte: se há alguma coisa que devemos aprender da
história, da teologia e da filosofia, é que devemos acautelar-nos
contra adotarmos um só grupo de idéias absolutas ao ponto de excluir as
demais, e devemos ser críticos em nossa avaliação de todas elas. Assim
como nenhum ser humano por si só tem conhecimento exaustivo de toda
realidade, embora talvez tenha discernimentos parciais e válidos neste
ou naquele campo da experiência, assim também nenhuma teologia abrange
tudo. Seus discernimentos e métodos freqüentemente são tentativos e
provisórios. Talvez tenha uma apreensão válida disto ou daquilo. Seus
métodos talvez sejam frutíferos em explorar certos campos específicos.
Se porém, formos sábios, ficaremos precavidos contra sistemas
definitivos e métodos alegadamente onicompetentes de abordagem. Enfim,
nos agarraremos na dúvida, no amor, na fé e na esperança, porque Deus é
Deus, e nós somos homens.